Sabe quando em suas férias você resolve arrumar os armários de sua casa? Pois bem, no meio da arrumação reencontrei o livro “O Gênio e as Rosas” de Mauricio de Souza e Paulo Coelho e me deparei com a história: O que é velhice: Ana Cintra conta que seu filho pequeno, com a curiosidade de quem ouviu uma nova palavra, mas ainda não entendeu seu significado, perguntou-lhe: – Mamãe, o que é a velhice? Na fração de segundo antes da resposta, Ana fez uma verdadeira viagem ao passado. Lembrou-se dos momentos de luta, das dificuldades, das decepções. Sentiu todo o peso da idade e da responsabilidade em seus ombros. Tornou a olhar para o filho que, sorrindo, aguardava uma resposta. – Olhe para meu rosto, filho. Isto é a velhice. E imaginou o garoto vendo as suas rugas e a tristeza em seus olhos. Qual não foi sua surpresa quando, depois de alguns instantes, o menino respondeu: – Mamãe! Como a velhice é bonita!
Complementando a história trago a música de Gonzaguinha “Feliz”: Viver e não ter a vergonha de ser feliz […] a beleza de ser um eterno aprendiz […] eu sei que a vida podia ser bem melhor e será, mas isso não impede que eu repita, é bonita, é bonita e é bonita. Os artistas nos revelam: a vida é bonita. A velhice é bonita. Portanto, envelhcer é beleza, PORQUE ENVELHECER É VIVER E VIVER É ENVELHECER, tanto que só pode envelhecer QUEM ESTÁ VIVO.
Viver é construir história, trilhar caminhos possíveis, pois somos constantemente desafiados pela vida. A vida é dinâmica, um processo contínuo de transformações. Sabemos que essa etapa da vida é multifacetada, heterogênea, não tenho, como objetivo neste momento, tratar dos preconceitos, violências e discriminações sofridos ainda por muitos idosos, apesar de ter consciência dos inúmeros problemas relacionados ao envelhecimento, mas sim, reconhecer a possibilidade que temos em trilhar um caminho possível de chegar à última fase da vida com autonomia, independência, mais plena e feliz.
Para tanto, faz-se necessário deixarmos de associar essas transformações, modificações apenas as mudanças corporais que acometem o ser humano em seu processo de envelhecimento. Nesta concepção, a velhice deixa de ser bela, pois o ideal estético se faz sobre o corpo jovem, este sim, acreditam alguns, dotado de beleza, vigor e saúde. A sociedade classifica e determina, negativamente, pelo corpo, o que é ser velho. A atriz, Betty Faria, foi muito criticada e chamada de “velha baranga” por usar biquíni aos 72 anos e prontamente respondeu: “Querem que eu vá à praia de burca, que eu me esconda, que eu ME ENVERGONHE DE TER ENVELHECIDO?
Um novo tempo, uma nova realidade, cada um faz suas próprias escolhas, usar biquíni, maiô, amarelo, vermelho, minissaia, calça jeans, namorar ou não namorar, enfim, o que mais importa não é o que usar, o que fazer, e sim ter a consciência de que somos cada vez mais livres e conscientes para as escolhas de como viver e envelhecer. Somos eternos aprendizes, e a beleza está justamente na singularidade de cada ser, em seus desejos, escolhas, amizades, paixões, medos, alegrias, projetos de vida. A velhice é uma fase da vida repleta de descobertas, vamos nos permitir, “ não há tempo que volte amor, vamos viver tudo o que há para viver”, assim nos embala Lulu Santos.
Fica a reflexão: O que estamos dispostos a fazer para termos uma “velhice bonita”?
Obrigada,
Até mais!
Pós-graduada em Neurociências aplicadas a Longevidade – UFRJ
Mestre em Educação Física – UNIMEP
Sócia-Diretora do Centro de Longevidade e Atualização de Piracicaba – CLAP
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