Arquivos por mês abril 2019

O CÉREBRO E SEUS MISTÉRIOS

O CÉREBRO E SEUS MISTÉRIOS

Em um feriado prolongado, Paulo dirige seu carro branco, pela rua de uma grande cidade. De repente, ao se distrair com algo, perde a direção e choca-se com um poste. Paulo, sem ter o cinto de segurança afivelado, sofre fratura do crânio e perda do tecido cerebral. Fica um mês em coma, com uma lenta recuperação no hospital e gradativa restauração das funções atingidas.

Luiza presencia o fato de longe, ficando extremamente impressionada com os ferimentos de Paulo.  Nunca mais ela esquece o que viu.

Marcos, na hora de seu almoço, lê no jornal sobre o acidente de Paulo, e a informação de que os cintos de segurança efetivamente protegem os motoristas. A leitura de tal artigo o convence da necessidade de usar o cinto de segurança, o que passa a fazer sistematicamente.

Caro leitor, o que há de semelhante nas três situações apresentadas?

Podemos observar que em cada situação, o ambiente externo (acidente, visão do acidente, leitura do artigo), influiu sobre o sistema nervoso de diferentes maneiras e com diferentes intensidades em cada um dos indivíduos.

No caso de Paulo, o acidente provocou uma lesão cerebral, que foi restaurada gradativamente. Luiza, ao presenciar o acidente teve uma forte impressão emocional, que ficou gravada em sua mente, mas não houve nenhum dano em seu cérebro. E Marcos, absorveu informações através da leitura do jornal e modificou o seu comportamento mediante as informações adquiridas. Fica claro que os cérebros de Paulo, Luiza e Marcos responderam aos estímulos do ambiente.

O que terá ocorrido com o cérebro desses três indivíduos?

Os cérebros de Paulo, Luiza e Marcos se adaptaram e se reorganizaram frente as novas situações vivenciadas por eles, o que hoje é conhecido como NEUROPLASTICIDADE, ou simplesmente PLASTICIDADE.

Houve uma resposta regenerativa as lesões traumáticas destrutivas no caso de Paulo e uma sutil alteração resultante dos processos de memória e aprendizagem em Luiza e Paulo. O sistema nervoso central (SNC), não é uma estrutura rígida, suas células: os neurônios, não são imutáveis como se acreditava há algum tempo. Hoje sabe-se que o SNC tem grande adaptabilidade e a capacidade em modificar sua estrutura e função.

O grau de plasticidade neural varia de acordo com a idade da pessoa, sendo mais plástico durante o desenvolvimento, diminuindo gradativamente na maturidade. A capacidade plástica não se extingue, como se pensava anteriormente, o cérebro na velhice continua se adaptando, modificando-se frente a novos estímulos ambientais.

Quando falamos que o cérebro se modifica ao receber estímulos externos, o que exatamente ocorre no sistema nervoso central?

Os neurocientistas que se dedicaram ao assunto constataram que, em alguns casos, é possível identificar mudanças morfológicas como a neurogênese (nascimento de novos neurônios); sinaptogênese (formação de novas sinapses, onde acontece a comunicação entre os neurônios); aumento do fator BNDF (fator neurotrófico derivado do cérebro), molécula que aumenta a sobrevivência e resistência do neurônio a danos, melhorando o desempenho cognitivo. E temos as mudanças funcionais que é justamente a que afeta o comportamento das pessoas.

Portanto, caros leitores, vamos exercitar o nosso cérebro, colocá-lo para funcionar de todas as formas, com atividades físicas, cognitivas (aprendendo algo novo a cada dia), culturais, sociais, espirituais, com boa alimentação, boa noite de sono, bom humor e muitas risadas para iluminar o seu dia!

Gratidão e até a próxima!

 

Referências Bibliográficas

  1. LENT, Roberto. CEM BILHÕES DE NEURÔNIOS?: conceitos fundamentais da neurociência – 2. Ed – São Paulo: Editora Atheneu, 2010.
  2. BEAR, Mark F. NEUROCIÊNCIAS: desvendando o sistema nervoso/ Mark F. Bear, Barry W. Connors, Michael A. Paradiso; tradução Carla Dalmaz…[et al.]. – 3ª ed. – Porto Alegre: Artmed, 2008.

 

Maristela Negri Marrano

Pós-graduada em Neurociências aplicadas a Longevidade – UFRJ

Mestre em Educação Física – UNIMEP

Sócia-Diretora do Centro de Longevidade e Atualização de Piracicaba – CLAP

maristela@centroclap.com.br

UM POUCO MENOS DE “EU”

UM POUCO MENOS DE “EU”

 

A história passou por vários momentos diferenciados que influenciaram e, ainda influenciam muito o modo de vida da sociedade atual. Costumo dizer em minhas aulas, que temos que conhecer e aprender com o passado para que possamos caminhar para frente melhor e com menos erros.

Na Idade Média difundiu-se o teocentrismo onde Deus era o centro de tudo e, “teoricamente”, os princípios que norteavam os seres humanos eram os da humildade, respeito e abnegação frente à grandiosidade e as vontades de Deus.

Com o passar do tempo, com o renascimento (sec XVII e XVIII)  o ser humano abre sua mente, racionaliza as barreiras do conhecimento, aprimora as ciências e, na dita evolução aparecem figuras importantes como  Rene Descartes que através do cartesianismo pregam o racionalismo, diminuindo assim o valor da alma e dos sentimentos.

Dentro desse contexto, passa a ser valorizado o antropocentrismo, onde o homem passa a ser o centro de tudo. Nessa ótica, todo o resto: coisas, outros seres e a própria natureza estão à serviço desse ser humano, detentor do conhecimento e controle.

Embora seja inegável o grande avanço das ciências, das artes e do próprio ser humano vendo a sociedade hoje com egos tão inflados e voltados para o eu egocêntrico, consumista e exteriorizado, percebemos que talvez esse antropocentrismo esteja subindo demais à cabeça.

 

Talvez o impacto das ideias do antropocentrismo, atualmente, esteja fazendo com que o ser humano foque suas atitudes no ter e supervalorize os “autos” da vida (auto suficiente, auto realizado, auto controle, auto eficiente etc) confundindo-se com  deuses, senhores do universo desejosos de controlar tudo e à todos.

Estamos adoecendo e, não por acaso, autores como  Regina Margis e  Antônio Dias, apontam que as pessoas de personalidade tipo A são mais suscetíveis à doenças cardíacas, e não coincidentemente, essas doenças são as que mais matam nos dias de hoje.

Pessoas com esse tipo de personalidade, segundo esses autores são ambiciosas, controladoras, competitivas, impacientes, hiperativas, investem muito na profissão, são auto disciplinadas, super exigentes e parecem estar constantemente prontas para o combate, prontas para superação desgastando-se emocional e fisicamente.

Claro que precisamos nos desenvolver, precisamos dos “autos” (auto realização, auto eficácia, auto afirmação, auto estima etc) mas não podemos nos desconectar do divino contido em cada ação nossa. Precisamos nos conectar ao sagrado através do reconhecimento do valor do próximo, através da necessidade de cuidar da natureza, através do reconhecimento de nossa pequenez diante do universo. Precisamos exercitar nossa espiritualidade.

O renomado psiquiatra e psicoterapeuta Dr. Ajax Salvador, num de seus excelentes textos sobre o adoecimento da sociedade coloca que “a noção da unidade sustenta-se agora não mais em Deus, mas na forma do eu (transcendental). Não por acaso os atributos que anteriormente eram atributos exclusivos da divindade passam a ser qualidades do “Eu” (unidade, autenticidade, independência, autonomia, autodeterminação etc.).

Eventos atuais de corrupção, números crescentes de pessoas adoecendo, constantes brigas por poder servem para nos mostrar que talvez esteja na hora de sermos mais humildes e aceitarmos, que no espetáculo da vida, o papel principal ainda cabe à Deus, e a natureza e o próximo dividem constantemente a cena conosco.

Namastê, até a próxima!

 

Ms. Alessandra Cerri;

 sócia-diretora do centro de longevidade e atualização,  de Piracicaba (CLAP), mestre em educação física, pós-graduada em neurociência aplicada à longevidade, pós-graduanda em psicossomática