Arquivos por ano 2019

PSEUDODEMÊNCIA

PSEUDODEMÊNCIA: um alerta do seu cérebro

 

A pseudodemência vem sendo considerada um problema de saúde pública uma vez que, segundo Richard Petersen, um dos maiores  pesquisadores do assunto, é tida como um estágio intermediário entre um envelhecimento saudável e a demência “real”.

A pseudodemência é também chamada de comprometimento cognitivo leve (CCL) e, como o próprio nome sugere compreende algumas disfunções cognitivas que prejudicam a eficiência da memória, tempo de reação, concentração, raciocínio, entre outros. No entanto, esses déficits cognitivos na CCL não afetam, a priori, a autonomia para execução das atividades da vida diária (AVDs).

Por esse motivo a CCL vem ganhando tanta importância, pois enquanto uma “falsa” demência ela permite a recuperação, desde que, haja uma ação adequada. Por esse motivo, podemos entendê-la como um sinal de alerta do cérebro para a necessidade de intervenção.

 

O reconhecimento através de exames e avaliações neuropsicológicas corretas juntamente com avaliação médica é de extrema importância, pois, favorece estratégias de intervenção num tempo adequado e eficiente para se diminuir a probabilidade de uma demência se instalar.

Essa intervenção envolve principalmente exercícios de treino cognitivo específicos e adequados, mas também, participação em atividades físicas e atividades que promovam a socialização. Ou seja, envolve estimulação variada e correta das várias funções cerebrais.

Vale ressaltar que a depressão e a ansiedade, duas síndromes recorrentes em nossa população contribuem diretamente para o aumento de casos de pseudodemência, inclusive alguns autores consideram também a pseudodemência depressiva. Essas duas síndromes prejudicam significativamente o funcionamento do córtex pré-frontal  (CPF), nossa grande área executiva. Por esse motivo pessoas que sofrem de ansiedade e depressão encontram dificuldade nos processos de memorização, concentração, atenção; evitam o convívio social e, encontram dificuldades no sono. Sendo assim, elas se tornam mais vulneráveis ao desenvolvimento de CCL.

Nossa vida acelerada, marcada por avanços tecnológicos contínuos, informações instantâneas e constantes, mídias sócias que influenciam diretamente o comportamento e o equilíbrio emocional das pessoas, contribuem muito para o crescimento dessas síndromes e, consequentemente impactam no aumento de casos de pseudodemência na população, especialmente as mulheres acima dos 55 anos, de acordo com os pesquisadores Iacoviello e Mathew.

A promoção de atividades cognitivas e físicas que estimulem o cérebro e promovam a socialização são de extrema importância e, fazem parte de medidas ligadas à saúde preventiva. O entendimento de que toda forma de acomodação, sedentarismo e isolamento são extremamente perigosos para o funcionamento cerebral pode gerar mudanças de comportamento significativas para uma vida melhor e mais saudável.

Finalizo o texto de hoje com uma frase que gosto muito do Dr. Waldemar Magaldi Filho (2009) “ A preguiça pode ser o prenúncio da necrose psíquica”        

Até a próxima, namastê!

 

Ms. Alessandra Cerri;

sócia-diretora do centro de longevidade e atualização de Piracicaba (CLAP); mestre em educação física, pós-graduada em neurociência aplicada à longevidade e pós-graduada em psicossomática

DA LIMA DA PÉRSIA A CONSCIÊNCIA DA FINITUDE DA VIDA

DA LIMA DA PÉRSIA A CONSCIÊNCIA DA FINITUDE DA VIDA

Essa semana, junto a minha mãe, resgatei momentos especiais vividos com ela quando sentávamos embaixo da limeira-da-pérsia e apreciávamos as mãos alvas e delicadas dela ao descascar as frutas para mim, meus irmãos e primos. Crianças, não sabíamos ainda definir seu gosto exato, tinha um sabor menos ácido, no finalzinho um gostinho amargo, por isso não era apreciada por todos. De tamanho entre uma laranja e um limão, casca fininha e de cor amarelo pálido, minha mãe nos alertava que fazia muito bem para a saúde e ao começar a descascá-la, podíamos sentir o cheiro agradável que emanava, um cheiro que para mim, representava a natureza, o cuidado, o carinho, aconchego, enfim, um momento para conversas engraçadas, para ouvir histórias, e para degustar a respectiva fruta cítrica de gostinho amargo.

Esta lembrança veio, porque ela mencionou que fazia tempo que não chupava lima da pérsia, foi um link para que eu resgatasse essa memória, e juntas revivemos momentos gratificantes na fazenda de meu avô. Após esse resgate ela falou – “Nossa, como o tempo passou, já estou com 87 anos, é bastante né? Toda manhã eu acordo e penso: acordei, estou viva”. Aí eu perguntei: “por que a senhora pensa isso?”. Ela no auge de sua sabedoria respondeu: “a única certeza que temos é a chegada da morte, só não sabemos exatamente como e quando virá.  Mas com o passar dos dias, a morte fica mais próxima, então quando eu acordo, fico feliz que ainda estou viva”.

Prosseguindo nosso diálogo, eu perguntei: “Mãe, a senhora tem medo da morte?” Ao que ela respondeu: “não, não tenho medo da morte, porque Deus sabe a hora de todos nós. Todos iremos morrer um dia, mas eu gostaria de morrer como um passarinho”. Surpresa com a resposta de minha mãe, continuei com minhas indagações: “Como é morrer como um passarinho mãe?”. Resposta: “Ué, que pergunta Maristela, você nunca viu um passarinho morrer? Ele está voando e de repente ele morre”.

Uau, “ele está voando e de repente ele morre”. Para mim foi o máximo, estamos vivendo e de repente morremos, mas no morrer como um passarinho está implícita a morte repentina, sem sofrimento, independente de como tenha sido a nossa vida, feliz, triste, sofrida, solitária, com muita gente.

De acordo com a médica Ana Claudia, em seu livro: A morte é um dia que vale a pena viver, enquanto não olharmos para a morte, não conseguiremos ter uma vida plena, e também nos esclarece que o verdadeiro herói é aquele que reconhece a morte como sua maior sabedoria, e não aquele que quer fugir do encontro com a morte.  Reconhecendo a nossa finitude, podemos ressignificar nossas vidas, ver a vida de outra forma, a passagem aqui na Terra é breve, precisa de valor, sentido e significado, pois “as pessoas morrem como viveram. Se nunca viveram com sentido, dificilmente terão a chance de viver a morte com sentido.”

Assim como a lima da pérsia tem no finalzinho um gostinho amargo, por isso não é apreciada por todos, conversar sobre e reconhecer a morte, também não é apreciado por todos e para algumas pessoas também tem esse gostinho amargo, pois a morte vem acompanhada do medo, emoções negativas por se tratar de algo desconhecido, configurando-se como parte do destino humano.  Mas uma vez a Dra. Ana Claudia nos alerta: “quem diz ter medo da morte deveria ter um medo mais responsável (…) o medo não salva ninguém do fim, a coragem também não. Mas o respeito pela morte traz equilíbrio e harmonia nas escolhas. Não traz imortalidade física, mas possibilita a experiência consciente de uma vida que vale a pena ser vivida.”

Pois bem, um diálogo e um livro recheado de muitas reflexões, finalizo com a questão do tempo, trazido pela Dra. Ana Cláudia, “o que separa o nascimento da morte é o TEMPO”.

Caro leitores, dentro desse tempo, qual o sentido que estamos dando para as nossas vidas?

Até a próxima.

 

Referências Bibliográficas:

ARANTES, Ana Claudia Arantes. A morte é um dia que vale a pena viver. Rio de      Janeiro: Sextante, 2019.

 

Maristela Negri Marrano –

Pós-graduada em Neurociências aplicadas a Longevidade – UFRJ

Mestre em Educação Física – UNIMEP

Sócia-Diretora do Centro de Longevidade e Atualização de Piracicaba – CLAP

maristela@centroclap.com.br

O CÉREBRO E SEUS MISTÉRIOS

O CÉREBRO E SEUS MISTÉRIOS

Em um feriado prolongado, Paulo dirige seu carro branco, pela rua de uma grande cidade. De repente, ao se distrair com algo, perde a direção e choca-se com um poste. Paulo, sem ter o cinto de segurança afivelado, sofre fratura do crânio e perda do tecido cerebral. Fica um mês em coma, com uma lenta recuperação no hospital e gradativa restauração das funções atingidas.

Luiza presencia o fato de longe, ficando extremamente impressionada com os ferimentos de Paulo.  Nunca mais ela esquece o que viu.

Marcos, na hora de seu almoço, lê no jornal sobre o acidente de Paulo, e a informação de que os cintos de segurança efetivamente protegem os motoristas. A leitura de tal artigo o convence da necessidade de usar o cinto de segurança, o que passa a fazer sistematicamente.

Caro leitor, o que há de semelhante nas três situações apresentadas?

Podemos observar que em cada situação, o ambiente externo (acidente, visão do acidente, leitura do artigo), influiu sobre o sistema nervoso de diferentes maneiras e com diferentes intensidades em cada um dos indivíduos.

No caso de Paulo, o acidente provocou uma lesão cerebral, que foi restaurada gradativamente. Luiza, ao presenciar o acidente teve uma forte impressão emocional, que ficou gravada em sua mente, mas não houve nenhum dano em seu cérebro. E Marcos, absorveu informações através da leitura do jornal e modificou o seu comportamento mediante as informações adquiridas. Fica claro que os cérebros de Paulo, Luiza e Marcos responderam aos estímulos do ambiente.

O que terá ocorrido com o cérebro desses três indivíduos?

Os cérebros de Paulo, Luiza e Marcos se adaptaram e se reorganizaram frente as novas situações vivenciadas por eles, o que hoje é conhecido como NEUROPLASTICIDADE, ou simplesmente PLASTICIDADE.

Houve uma resposta regenerativa as lesões traumáticas destrutivas no caso de Paulo e uma sutil alteração resultante dos processos de memória e aprendizagem em Luiza e Paulo. O sistema nervoso central (SNC), não é uma estrutura rígida, suas células: os neurônios, não são imutáveis como se acreditava há algum tempo. Hoje sabe-se que o SNC tem grande adaptabilidade e a capacidade em modificar sua estrutura e função.

O grau de plasticidade neural varia de acordo com a idade da pessoa, sendo mais plástico durante o desenvolvimento, diminuindo gradativamente na maturidade. A capacidade plástica não se extingue, como se pensava anteriormente, o cérebro na velhice continua se adaptando, modificando-se frente a novos estímulos ambientais.

Quando falamos que o cérebro se modifica ao receber estímulos externos, o que exatamente ocorre no sistema nervoso central?

Os neurocientistas que se dedicaram ao assunto constataram que, em alguns casos, é possível identificar mudanças morfológicas como a neurogênese (nascimento de novos neurônios); sinaptogênese (formação de novas sinapses, onde acontece a comunicação entre os neurônios); aumento do fator BNDF (fator neurotrófico derivado do cérebro), molécula que aumenta a sobrevivência e resistência do neurônio a danos, melhorando o desempenho cognitivo. E temos as mudanças funcionais que é justamente a que afeta o comportamento das pessoas.

Portanto, caros leitores, vamos exercitar o nosso cérebro, colocá-lo para funcionar de todas as formas, com atividades físicas, cognitivas (aprendendo algo novo a cada dia), culturais, sociais, espirituais, com boa alimentação, boa noite de sono, bom humor e muitas risadas para iluminar o seu dia!

Gratidão e até a próxima!

 

Referências Bibliográficas

  1. LENT, Roberto. CEM BILHÕES DE NEURÔNIOS?: conceitos fundamentais da neurociência – 2. Ed – São Paulo: Editora Atheneu, 2010.
  2. BEAR, Mark F. NEUROCIÊNCIAS: desvendando o sistema nervoso/ Mark F. Bear, Barry W. Connors, Michael A. Paradiso; tradução Carla Dalmaz…[et al.]. – 3ª ed. – Porto Alegre: Artmed, 2008.

 

Maristela Negri Marrano

Pós-graduada em Neurociências aplicadas a Longevidade – UFRJ

Mestre em Educação Física – UNIMEP

Sócia-Diretora do Centro de Longevidade e Atualização de Piracicaba – CLAP

maristela@centroclap.com.br

UM POUCO MENOS DE “EU”

UM POUCO MENOS DE “EU”

 

A história passou por vários momentos diferenciados que influenciaram e, ainda influenciam muito o modo de vida da sociedade atual. Costumo dizer em minhas aulas, que temos que conhecer e aprender com o passado para que possamos caminhar para frente melhor e com menos erros.

Na Idade Média difundiu-se o teocentrismo onde Deus era o centro de tudo e, “teoricamente”, os princípios que norteavam os seres humanos eram os da humildade, respeito e abnegação frente à grandiosidade e as vontades de Deus.

Com o passar do tempo, com o renascimento (sec XVII e XVIII)  o ser humano abre sua mente, racionaliza as barreiras do conhecimento, aprimora as ciências e, na dita evolução aparecem figuras importantes como  Rene Descartes que através do cartesianismo pregam o racionalismo, diminuindo assim o valor da alma e dos sentimentos.

Dentro desse contexto, passa a ser valorizado o antropocentrismo, onde o homem passa a ser o centro de tudo. Nessa ótica, todo o resto: coisas, outros seres e a própria natureza estão à serviço desse ser humano, detentor do conhecimento e controle.

Embora seja inegável o grande avanço das ciências, das artes e do próprio ser humano vendo a sociedade hoje com egos tão inflados e voltados para o eu egocêntrico, consumista e exteriorizado, percebemos que talvez esse antropocentrismo esteja subindo demais à cabeça.

 

Talvez o impacto das ideias do antropocentrismo, atualmente, esteja fazendo com que o ser humano foque suas atitudes no ter e supervalorize os “autos” da vida (auto suficiente, auto realizado, auto controle, auto eficiente etc) confundindo-se com  deuses, senhores do universo desejosos de controlar tudo e à todos.

Estamos adoecendo e, não por acaso, autores como  Regina Margis e  Antônio Dias, apontam que as pessoas de personalidade tipo A são mais suscetíveis à doenças cardíacas, e não coincidentemente, essas doenças são as que mais matam nos dias de hoje.

Pessoas com esse tipo de personalidade, segundo esses autores são ambiciosas, controladoras, competitivas, impacientes, hiperativas, investem muito na profissão, são auto disciplinadas, super exigentes e parecem estar constantemente prontas para o combate, prontas para superação desgastando-se emocional e fisicamente.

Claro que precisamos nos desenvolver, precisamos dos “autos” (auto realização, auto eficácia, auto afirmação, auto estima etc) mas não podemos nos desconectar do divino contido em cada ação nossa. Precisamos nos conectar ao sagrado através do reconhecimento do valor do próximo, através da necessidade de cuidar da natureza, através do reconhecimento de nossa pequenez diante do universo. Precisamos exercitar nossa espiritualidade.

O renomado psiquiatra e psicoterapeuta Dr. Ajax Salvador, num de seus excelentes textos sobre o adoecimento da sociedade coloca que “a noção da unidade sustenta-se agora não mais em Deus, mas na forma do eu (transcendental). Não por acaso os atributos que anteriormente eram atributos exclusivos da divindade passam a ser qualidades do “Eu” (unidade, autenticidade, independência, autonomia, autodeterminação etc.).

Eventos atuais de corrupção, números crescentes de pessoas adoecendo, constantes brigas por poder servem para nos mostrar que talvez esteja na hora de sermos mais humildes e aceitarmos, que no espetáculo da vida, o papel principal ainda cabe à Deus, e a natureza e o próximo dividem constantemente a cena conosco.

Namastê, até a próxima!

 

Ms. Alessandra Cerri;

 sócia-diretora do centro de longevidade e atualização,  de Piracicaba (CLAP), mestre em educação física, pós-graduada em neurociência aplicada à longevidade, pós-graduanda em psicossomática 

 

 

 

 

 

Atitude diante da Vida

Atitude faz toda a diferença       

Já comentei outras vezes que gosto muito de assistir filme, especialmente, filmes baseados em fatos reais.

Pois bem, assisti recentemente ao filme “Andar, Montar, Rodeo” que conta a luta incessante de uma americana campeã de rodeo, paralisada em função de um acidente automobilístico, para voltar a executar essas três ações. O filme é lindo e no final ela diz uma frase que me chamou muito atenção: “…atitude é uma pequena coisa que faz uma grande diferença… Eu percebi que não posso ter controle sobre tudo o que acontece em minha vida… mas quando eu acordo eu tenho que decidir minha atitude…”

Em minha convivência diária com pessoas mais velhas percebo a veracidade dessa frase. Tudo está relacionado à atitude que a pessoa tem a partir do momento que acorda; a atitude que a pessoa tem diante do fato de não ter controle sobre tudo; mais que isso, percebo que o envelhecimento está diretamente relacionado à atitude diante da vida.

Pessoas que decidem ver o lado bom da vida, escolhem ter uma atitude de enfrentamento diante dos problemas, optam por olhar para frente, através do otimismo e da simpatia mesmo vivenciando problemas (e olha que conheço mulheres que mesmo com problemas muito sérios e pesados sorriem para a vida…).

Essas pessoas não adotam uma atitude de vítimas diante dos problemas, não ficam lamentando os acontecimentos e nem repetindo reclamações diante de fatos imutáveis, elas simplesmente caminham para frente e agradecem o momento presente.

Em função dessa atitude se tornam pessoas agradáveis, que mostram sabedoria para os que estão ao seu redor; naturalmente acabam fortalecendo dois dos pontos mais importantes para um envelhecimento bem sucedido: aceitação e cultivo de amizades.

 

Em contrapartida, pessoas que estão no oposto a isso: adotam uma atitude de sempre olhar para trás, se colocando como vítimas; lamentando constantemente os acontecimentos da vida, repetindo os problemas para todos ao redor, são pessoas que acabam dificultando o convívio (afinal quem é que gosta de ficar ouvindo reclamações?) e não possibilitando a resiliência (capacidade de enfrentar e se recuperar de problemas). Pessoas assim tendem a ter um temperamento melancólico o que as torna mais vulneráveis à depressão e mais sensíveis a percepção de dores.

`           Infelizmente, não podemos ter controle sobre tudo (acredito que os fatos de nossa vida estejam relacionados à nossa jornada rumo à evolução), mas podemos decidir a atitude que teremos à partir de uma dada situação e, é essa atitude que determinará os fatos seguintes.

Finalizo o texto de hoje com a frase de Amy Tan (de acordo com o site o pensador)  “se você não pode mudar seu destino, mude sua atitude”

Até a próxima,

Namastê!  

Ms. Alessandra Cerri;

sócia-diretora do centro de longevidade e atualização de Piracicaba (CLAP) 

   

ENVELHECER É CONSTRUIR HISTÓRIA, TRILHAR CAMINHOS POSSÍVEIS

ENVELHECER É CONSTRUIR HISTÓRIA, TRILHAR CAMINHOS POSSÍVEIS

 

Sabe quando em suas férias você resolve arrumar os armários de sua casa? Pois bem, no meio da arrumação reencontrei o livro “O Gênio e as Rosas” de Mauricio de Souza e Paulo Coelho e me deparei com a história: O que é velhice: Ana Cintra conta que seu filho pequeno, com a curiosidade de quem ouviu uma nova palavra, mas ainda não entendeu seu significado, perguntou-lhe: – Mamãe, o que é a velhice? Na fração de segundo antes da resposta, Ana fez uma verdadeira viagem ao passado. Lembrou-se dos momentos de luta, das dificuldades, das decepções. Sentiu todo o peso da idade e da responsabilidade em seus ombros. Tornou a olhar para o filho que, sorrindo, aguardava uma resposta. – Olhe para meu rosto, filho. Isto é a velhice. E imaginou o garoto vendo as suas rugas e a tristeza em seus olhos. Qual não foi sua surpresa quando, depois de alguns instantes, o menino respondeu: – Mamãe! Como a velhice é bonita!

Complementando a história trago a música de Gonzaguinha “Feliz”: Viver e não ter a vergonha de ser feliz […] a beleza de ser um eterno aprendiz […] eu sei que a vida podia ser bem melhor e será, mas isso não impede que eu repita, é bonita, é bonita e é bonita.  Os artistas nos  revelam: a vida é bonita. A velhice é bonita. Portanto, envelhcer é beleza, PORQUE ENVELHECER É VIVER E VIVER É ENVELHECER, tanto que só pode envelhecer QUEM ESTÁ VIVO.

Viver é construir história, trilhar caminhos possíveis, pois somos constantemente desafiados pela vida. A vida é dinâmica, um processo contínuo de transformações.    Sabemos que essa etapa da vida é multifacetada, heterogênea, não tenho, como objetivo neste momento, tratar dos preconceitos, violências e discriminações sofridos ainda por muitos idosos, apesar de ter consciência dos inúmeros problemas relacionados ao envelhecimento, mas sim, reconhecer a possibilidade que temos em  trilhar um caminho possível de chegar à última fase da vida com autonomia, independência, mais plena e feliz.

Para tanto, faz-se necessário deixarmos de associar essas transformações, modificações apenas as mudanças corporais que acometem o ser humano em seu processo de envelhecimento. Nesta concepção, a velhice deixa de ser bela, pois o ideal estético se faz sobre o corpo jovem, este sim, acreditam alguns, dotado de beleza, vigor e saúde. A sociedade classifica e determina, negativamente, pelo corpo, o que é ser velho. A atriz, Betty Faria, foi muito criticada e chamada de “velha baranga” por usar biquíni aos 72 anos e prontamente respondeu: “Querem que eu vá à praia de burca, que eu me esconda, que eu ME ENVERGONHE DE TER ENVELHECIDO?

Um novo tempo, uma nova realidade, cada um faz suas próprias escolhas, usar biquíni, maiô, amarelo, vermelho, minissaia, calça jeans, namorar ou  não namorar, enfim, o que mais importa não é o que usar, o que fazer, e sim ter a consciência de que somos cada vez mais livres e conscientes para as escolhas de como viver e envelhecer. Somos eternos aprendizes, e a beleza está justamente na singularidade de cada ser, em seus desejos, escolhas, amizades, paixões, medos, alegrias, projetos de vida. A velhice é uma fase da vida repleta de descobertas, vamos nos permitir, “ não  há tempo que volte amor, vamos viver tudo o que há para viver”, assim nos embala Lulu Santos.

Fica a reflexão: O que estamos dispostos a fazer para termos uma “velhice bonita”?

Obrigada,

Até mais!

 

Maristela Negri Marrano

Pós-graduada em Neurociências aplicadas a Longevidade – UFRJ

Mestre em Educação Física – UNIMEP

Sócia-Diretora do Centro de Longevidade e Atualização de Piracicaba – CLAP

maristela@centroclap.com.br