Tive o privilégio de conhecer o Japão, visitei a capital Tóquio, Kioto e Osaka. Já visitei outros países, mas acho que nenhum me impactou tanto quanto o Japão. O impacto não foi só pelos belíssimos e impressionantes templos e paisagens super bem preservados ou, pelo reconhecido avanço tecnológico, visível em todos os detalhes; embora tenha me surpreendido com essas coisas também, o que me impressionou mesmo foi a civilidade e a educação dos japoneses; o que os diferencia é a preocupação genuína e o respeito com o próximo.
Imagino que essa educação e gentileza estejam diretamente ligadas a espiritualidade cultivada por esse povo. Uma espiritualidade que não está, necessariamente, ligada à religião. Ela está relacionada à busca por um significado mais amplo da vida, está ligada a compreensão de que estamos todos interligados e que nossas atitudes interferem na vida de outros, está relacionada a busca constante por evolução existencial.
Dentro desse contexto David Tacey comenta que a espiritualidade deve ser entendida como uma conexão, um sentir-se unido a uma totalidade maior que transcende o ego e o individualismo.
Por esse motivo, em minha opinião, o povo japonês valoriza profundamente seus ancestrais e, expressa sua espiritualidade entendendo a importância de se fazer o melhor e de se buscar a atitude correta diante das situações diárias. Os estrangeiros percebem isso na cordialidade com que são tratados em todos os lugares, constatam isso nas filas naturalmente organizadas no metrô em pleno horário de pico (não existe correria, tão pouco existe empurrões ou gritaria) ou no silêncio dentro dos metros, trens (gentilmente é solicitado que os celulares fiquem no modo silencioso, você não imagina a sensação de paz que isso traz), reparam na inacreditável limpeza de todos os lugares públicos (até mesmo de banheiros públicos).
Como brasileira senti a enorme distância entre os países, mas infelizmente, essa distância não está só na posição geográfica; está na triste imaturidade evolutiva que nós brasileiros estamos, está no inerente senso de oportunismo, o “tirar vantagem”, que por tantas vezes fica evidente em nosso país, seja nos vários níveis de corrupção, seja no trânsito, seja nas variadas formas de se tentar burlar a lei, seja na falta de respeito com que tratamos os mais velhos …
Essa distância fica evidente na falta de consciência que nós temos do outro, da falta de consciência que temos de que tudo o que fazemos vai ter um impacto direto ou indireto na vida do outro. Nesse mundo acelerado, exteriorizado e individualista que estamos vivendo pessoas que tem a percepção e a compaixão com o outro acabam sendo diferenciadas e, normalmente tem uma preocupação com o auto – aprimoramento espiritual e moral.
Essa espiritualidade exercida no Japão tem também um impacto direto na saúde dessa população que está entre as mais saudáveis e longevas do mundo, sendo inclusive a principal dentro de um dos maiores estudos em longevidade, denominado Blue Zones.
Brigitte Dorst analisando os trabalhos de Jung sobre espiritualidade e transcendência comenta que a ciência tem encontrado evidências muito fortes sobre a relação entre a espiritualidade e a saúde em indicadores como redução de estresse, melhora da expectativa de vida, redução de doenças cardíacas e circulatórias e do incremento de bem-estar.
Precisamos exercitar nossa espiritualidade para termos uma maior consciência de nós mesmos, do outro e da existência de algo maior que nos dê um propósito de busca pelo sentido de vida, um caminho para sermos melhores, mais civilizados e preocupados em deixar bons legados. Precisamos trabalhar nossa espiritualidade através do olhar “para dentro”, aceitando nossas fragilidades, reconhecendo (com humildade) nossas forças, refletindo sobre as possíveis melhoras em nossa trajetória, valorizando a presença e o cuidar do próximo.
Finalizo o texto de hoje com uma frase de Mahatama Gandhi “A única revolução possível é dentro de nós”
Até a próxima, namastê!
Ms. Alessandra Cerri; sócia-diretora do centro de longevidade e atualização de Piracicaba (CLAP); mestre em educação física, pós-graduada em neurociência e pós-graduada em psicossomática.
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