Nas visitas a minha mãe, tenho ficado bem distante. Estão sendo encontros sem abraços, sem beijos e com diálogos mais rápidos. Na visita dessa semana, perguntei: mãe, o que a senhora está achando desse Coronavírus? – “Ah, uma coisa muita estranha, está fazendo a minha rua ficar sem movimento, está me fazendo ficar presa em casa, não posso tomar cafezinho na padaria, está ficando muito chato! Mas, fazer o que? Estão falando para ficar em casa. Vamos ficar então! Mas, sorte que eu posso assistir à missa na televisão, pedir proteção a Deus”.
Pois é, estamos todos vivenciando uma situação bastante incomum, o Coronavírus se espalhou pelo mundo todo e nos colocou em isolamento social. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o objetivo da medida é minimizar a velocidade de transmissão do vírus que causa a doença Covid 19, e assim, evitar a sobrecarga nos serviços de atendimento médico. E a população com mais de 60 anos é considerada grupo de risco e sujeita a apresentar complicações graves. De repente se depararam com uma realidade bem diferente, abrir mão, temporariamente, do convívio social. Um grupo, que em tempos normais, era incentivado a sair, interagir com todos, e agora, se defrontam com uma série de restrições e novas configurações sociais.
Como trabalho com esse faixa etária, e obviamente estando em quarentena, diariamente entro em contato com nossos alunos e alunas para saber como estão e também para enviar exercícios motores e cognitivos pelo whatsapp. E ao perguntar como estavam lidando com essa situação, alguns quiseram compartilhar suas experiências, as quais, para mim foram bastante significativas.
Um dos participantes, uma pessoa muito ativa, disse que esse momento trouxe uma reflexão interessante sobre o tempo, pois “quando temos toda liberdade de ir e vir, nós achamos que o tempo voa, mas no isolamento, o tempo demora para passar, e agora, preciso reaprender a usar esse meu tempo extra. Nesse momento, percebo que as prioridades mudaram”.
Uma outra aluna fez um desabafo: “eu moro sozinha, meus filhos não tem condições de passar toda hora aqui, então há momentos que eu preciso sair, fazer compras, pois preciso me alimentar. Mas as pessoas ficam criticando, acham que a gente sai por teimosia, acabam generalizando, todos os idosos são teimosos. Mas essas pessoas que criticam, não sabem de nossas necessidades, ninguém vem perguntar se estamos precisando de ajuda, e também não pensam que chegarão na nossa idade e também terão necessidades diferenciadas”.
E prosseguindo com os meus contatos, mais uma aluna quis compartilhar sua experiência: “Estamos isolados, bombardeados com muita informação sobre o que fazer, o que não fazer, dizendo que idosos não param de morrer e aí, algumas pessoas se desesperam, querem estocar alimentos, remédios. Digo para você, diante essa realidade, escolhi ficar calma, ter fé e emitir vibração positiva, tudo vai passar, ficaremos bem, os nossos corações logo irão se acalmar.”
Acredito que é de suma importância acatar e entender de fato o que essas pessoas estão nos dizendo, pois é uma realidade vivenciada e diferenciada. Trata-se do grupo de maior risco, e por meio desse diálogo e da escuta a respeito de como estão lidando com essa situação, surgiram várias dicas para que possamos introduzir em nosso cotidiano para amenizar os efeitos negativos que o isolamento social pode acarretar.
Sim, estamos todos assustados, inseguros, com medo, pois na realidade não sabemos exatamente o que vai acontecer, quais os impactos na saúde, na educação, na economia, enfim, na humanidade. Sem dúvida, estamos vivendo um dia de cada vez, estejamos mais conscientes e presentes em cada detalhe de nosso dia, transformando cada dia num generoso campo de amor, compaixão, aprendizado, evolução, para que juntos, possamos expandir a possibilidade de ampliar e mudar nossas perspectivas e resgatar nossas possibilidades e desafios diante a vida.
Pós-graduada em Neurociências aplicadas a Longevidade – UFRJ
Pós-graduada em Atividade Física e Qualidade de Vida – UNICAMP
Mestre em Educação Física – UNIMEP
Sócia-Diretora do Centro de Longevidade e Atualização de Piracicaba – CLAP
marismarrano@terra.com.br
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