A pandemia nos colocou isolados em nossas próprias casas; de repente um vírus microscópico mudou toda nossa rotina e fez aflorar nossos maiores medos, despertou em nós uma grande insegurança em relação ao amanhã e nos fez entender que não somos tão soberanos e não temos controle sobre tudo como achávamos ou desejávamos.
A pandemia nos tirou também algo muito estimado e talvez até superestimado em alguns momentos: a liberdade; que por tantas vezes, erroneamente, é diretamente associado à felicidade. No entanto, o caos instaurado pela pandemia nos fez rever e entender alguns conceitos importantes e necessários ligados a ela e, talvez um dos mais significativos seja a compreensão de que a liberdade sem responsabilidade é perigosa e pode representar exatamente o seu oposto: nosso aprisionamento.
Embora a liberdade seja sim um aspecto de grande importância para a vida do ser humano, ela jamais pode ser dissociada de algumas questões como consequência, limites e consciência.
Christophe Andre, famoso psiquiatra, um dos pioneiros na introdução da meditação na psicoterapia e um dos autores do livro “O caminho da sabedoria”, comenta que 4 pilares são base para a construção da liberdade: equilíbrio interior, consciência do outro, aceitação das limitações e coragem.
O equilíbrio interior é fundamental à medida que possibilita a compreensão e regulação de nossas próprias emoções e impulsos. A consciência do outro é imprescindível para que entendamos que tudo o que faço no individual impacta e pode afetar a liberdade do outro (somos seres sociais e precisamos uns dos outros); a aceitação envolve uma espécie de submissão, humildade e espiritualidade para nos render a algumas limitações da vida ou regras instransponíveis e, o último pilar diz respeito a coragem tão necessária para nos permitir dizer não ou para nos possibilitar enxergar erros e mudar trajetórias e decisões.
A liberdade sem esses pilares pode ser perigosa, egoísta podendo ser um risco para nós mesmos e para nossos semelhantes; pode ser também causadora de uma das maiores prisões que o ser humano pode vivenciar: a culpa, sentimento tão comum quando cedemos aos nossos impulsos e vontades sem considerar as consequências.
Essa pandemia mudou nossas vidas de várias formas, mas é inegável que ela nos provou de maneira irrefutável que a disciplina, o bom uso da liberdade consciente e respeitosa são aspectos chave para a proteção e evolução da humanidade.
Hoje finalizo com uma frase muito sábia do famoso filósofo francês Jean Paul Sartre “Viver é isso: ficar se equilibrando o tempo todo entre escolhas e consequências”. Que saibamos usar nossa liberdade de maneira consciente e, que saibamos entender que o nosso direito vai até onde começa o do outro.
Até a próxima, namastê!
Ms. Alessandra Cerri;
sócia-diretora do centro de longevidade e atualização de Piracicaba (CLAP); mestre em educação física, pós-graduada em neurociência e pós-graduada em psicossomática.
A mitologia, considerada por muitos uma espécie de religião, estuda e influencia as questões humanas desde o século V a.C. Suas muitas histórias são significativas para o entendimento do comportamento humano e ainda se fazem muito presentes em nossas vidas, seja através dos inúmeros filmes baseados nos contos mitológicos, seja em nossas variadas expressões usadas cotidianamente ou ainda, através do estudo de nossa personalidade que certamente encontrará resquícios nessa sabedoria milenar.
Pois bem, dentro das histórias mitológicas, os grandes deuses e deusas passaram por muitas guerras e períodos de caos e, nesses momentos o comportamento e o enfrentamento de cada um dos personagens envolvidos pode nos servir de ensinamento e inspiração.
De acordo com a escritora Jean Bolen (1990), doutora em psiquiatria e grande estudiosa das deusas mitológicas, toda mulher pode receber a influência das muitas deusas e, em determinados momentos essa mulher pode priorizar as características de uma deusa específica para se fortalecer numa fase de maior dificuldade.
Assim sendo, nesse momento de caos, de pandemia um dos maiores desafios para a mulher (e para os homens também) é preservar sua saúde mental diante de tanta ansiedade, angústia e incertezas que marcam esse período. E dentro desse cenário, uma deusa, em especial, tem muito a nos ensinar…
Héstia (mitologia grega) ou Vesta (mitologia romana) conhecida como deusa do templo, ou da lareira (fogo) tem como sua principal característica o equilíbrio emocional e harmonia em função de sua grande capacidade de interiorização mesmo diante do caos. Por isso, sua representação está na lareira que tem o poder de aquecer e iluminar um lar.
Hestia era filha primogênita dos grandes deuses Reia e Crono (deus do tempo). Seu pai Crono com medo de perder seu reinado e poder para algum filho decide engoli-los e nesse ataque ela foi a primeira a ser engolida e, segundo Bolen, a última a ser vomitada significando que ela teve que ficar um bom tempo convivendo consigo mesma, num ambiente inseguro e com um futuro desconhecido.
Sendo assim, Hestia é marcada por muita confiança (fé) e grande conscientização de si mesma. Isso implica em grande auto – conhecimento e de acordo com Kathelen Sears (2015) isso possibilita que ela seja uma pessoa serena que tem controle de seus impulsos não deixando que tumultos e conflitos externos a abalem.
Num momento como o que estamos vivendo de grande estresse e insegurança resgatar as características de Héstia é primordial para diminuir nossa vulnerabilidade emocional. Esse resgate da nossa Héstia envolve aumentar nossa consciência do agora, melhorar nossa capacidade de interiorização e espiritualidade. Essas habilidades podem ser desenvolvidas através de atividades que nos possibilitem estar no momento presente como meditação, atividades do lar como arrumação, decoração, cozinhar, jardinagem, dança, costura, bordado, oração etc
O caos que estamos vivendo vai passar, dias melhores virão, mas enquanto isso estejamos atentos a necessidade de nos proteger emocionalmente, de ´acender´ a nossa lareira interna para que possamos iluminar e confortar nossa própria casa, para que possamos esquentar nossa fé no amanhã.
Nunca o ser humano foi tão obrigado a pausar sua vida e olhar para dentro de si como agora e como já nos disse Jung “Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta”. Despertemos para a necessidade de mudanças tanto individuais como coletivas, não podemos sair de um momento histórico como esse do mesmo jeito que entramos.
Até a próxima, namastê!
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