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A BELEZA DAS VELHAS ÁRVORES É DIFERENTE DA BELEZA DAS ÁRVORES JOVENS

A BELEZA DAS VELHAS ÁRVORES É DIFERENTE DA BELEZA DAS ÁRVORES JOVENS

 

DESCUBRA OS CAMINHOS PARA O ENTENDIMENTO DO SER QUE VIVE E CONSEQUENTEMENTE ENVELHECE.

Em 2001, Rubem Alves já dizia “Sessenta e oito anos! Nunca imaginei que isso iria me acontecer. Fiquei velho. Não é ruim. A velhice tem uma beleza que lhe é própria. A beleza das velhas árvores é diferente da beleza das árvores jovens. Triste é quando as velhas árvores, cegas para a sua própria beleza, começam a imitar a beleza das árvores jovens. Aí acontece o grotesco”.

Olavo Bilac também traz-nos esta reflexão em seu Poema: Velhas Árvores

Olha estas velhas árvores, mais belas

Do que as árvores novas, mais amigas:

Tanto mais belas quanto mais antigas,

Vencedoras da idade e das procelas…

O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas

Vivem, livres de fomes e fadigas;

E em seus galhos abrigam-se as cantigas

E os amores das aves tagarelas.

Não choremos, amigo, a mocidade!

Envelheçamos rindo! envelheçamos

Como as árvores fortes envelhecem:

Na glória da alegria e da bondade,

Agasalhando os pássaros nos ramos,

Dando sombra e consolo aos que padecem!

Pois bem, chega um momento em nossas vidas que envelhecer se torna relevante, mais evidente, ou seja, torna-se mais perceptivo. O momento é diferente para cada um. Eu senti a passagem do tempo quando os amigos de meus filhos começaram a me chamar de Tia. Engraçado, os que têm a mesma idade que você ou mais, te chamam de você, os mais novos, de Senhora! A primeira vez que ouvi, achei estranho, soou diferente! Aí eu percebi, o tempo passou! Como nos diz Spidurso (2005, p. xi), “[…] a consciência pode ser repentina ou sutil, porém, em uma determinada idade, cada um de nós realmente compreende pela primeira vez que não somos imortais”.

Rubem Alves (2001, p.21) nos relata sua descoberta, “foi assim que eu me descobri velho, ao ver a minha imagem refletida no espelho dos olhos daquela moça”. A moça a que o autor se refere é a que lhe cedeu o lugar no assento do metrô. O mesmo nos relata o início de seu “caso de amor” com a velhice: “ Primeira premissa: eu sou velho, o gesto da moça do metrô o atesta. Segunda premissa: a velhice é a tarde imóvel, banhada por uma luz antiquíssima; a metáfora poética assim o declara. Terceira premissa: essa tarde imóvel me encanta, é bela. Conclusão: a velhice é bela como a tarde imóvel”.

Outro dia estava passeando com minha mãe e de repente reencontramos uma amiga que há muito ela não via, conversaram, relembraram da infância no sítio, falaram dos filhos, netos, e se despediram. Em seguida minha mãe falou: – Nossa como ela envelheceu! Neste instante respondi a minha mãe: – Será que ela não está pensando o mesmo em relação à Senhora? Minha mãe riu muito e disse: – Ah… é bem provável!

Será que nosso inconsciente ignora a velhice? A velhice está presente no outro e também somente a partir do olhar do outro, vemos que estamos velhos. Resgato os dizeres de Beauvoir (1990, p. 353) para nos auxiliar nesta reflexão: “É normal, uma vez que em nós é o outro que é velho, que a revelação de nossa idade venha dos outros. Não consentimos nisso de boa vontade. Uma pessoa fica sempre sobressaltada quando a chamam de velha pela primeira vez”.

O envelhecer é único para cada ser humano, um processo de transformação contínua em seu tempo vivido. Há diferenças na percepção, no ritmo, na duração e nos efeitos deste processo. Uns se preocupam mais do que os outros com as marcas corporais deixadas pelo tempo, como os cabelos brancos, rugas, flacidez muscular e muitos tem medo de que com a velhice venha a solidão, a dependência física, econômica e a morte. Minayo (2006) nos revela que estudos antropológicos com idosos brasileiros mostram que, mesmo sofrendo enfermidades e dependências, muitos idosos consideram-se saudáveis (percepção subjetiva) se ao lado de condições materiais de sobrevivência podem contar com redes de apoio social, com ênfase no afeto e na solidariedade familiar e social.

Bobbio (1991) e Neri (2001) nos ajudam a delinear os caminhos do Ser que vive e consequentemente envelhece, Ser este, que deverá desenvolver e adquirir as seguintes habilidades: De entender que a velhice não é uma cisão em relação à vida anterior e sim uma continuação da criança, da adolescência, da juventude, da maturidade que podem ter sido vividas de maneiras diferenciadas; Em ter conhecimento de si, reconhecendo que em nosso corpo envelhecido está à verdade de nossa existência, um processo contínuo de transformações, que supõe fenômenos biológicos, físicos, sociais, culturais, espirituais interdependentes. De ter consciência de seus desejos, metas, sentido de direção, abrir-se para o mundo, com sonhos, projetos, na perspectiva do querer, do seguir adiante buscando a autosuperação; E de ter a clareza que a velhice é uma realidade multifacetada, uma etapa de encantos e também desencantos.

A beleza transcende ao tempo, pois quando descobrimos que somos um todo indissociável, compreendemos que ser um ser humano idoso é apenas uma maneira de adquirir beleza.  Assim, Monteiro (2004, p. 8) nos revela: “Não precisamos pensar que ser jovem é ser bonito e ser velho é ser feio, pois a beleza está em nós porque somos seres com potencialidade irrestrita, somos instáveis e envelhecemos. Se não envelhecêssemos não teríamos nenhuma possibilidade. Como posso acreditar que o dia de amanhã será melhor do que o de hoje? Porque envelheço. Envelhecer é mudar, é ir além da forma de nós mesmos, buscando descobrir um melhor caminho de ser e de viver. Quando acreditamos nisso um novo horizonte se abre aos nossos olhos”.

Maristela Negri Marrano

UM POUCO MENOS DE “EU”

UM POUCO MENOS DE “EU”

 

A história passou por vários momentos diferenciados que influenciaram e, ainda influenciam muito o modo de vida da sociedade atual. Costumo dizer em minhas aulas, que temos que conhecer e aprender com o passado para que possamos caminhar para frente melhor e com menos erros.

Na Idade Média difundiu-se o teocentrismo onde Deus era o centro de tudo e, “teoricamente”, os princípios que norteavam os seres humanos eram os da humildade, respeito e abnegação frente à grandiosidade e as vontades de Deus.

Com o passar do tempo, com o renascimento (sec XVII e XVIII)  o ser humano abre sua mente, racionaliza as barreiras do conhecimento, aprimora as ciências e, na dita evolução aparecem figuras importantes como  Rene Descartes que através do cartesianismo pregam o racionalismo, diminuindo assim o valor da alma e dos sentimentos.

Dentro desse contexto, passa a ser valorizado o antropocentrismo, onde o homem passa a ser o centro de tudo. Nessa ótica, todo o resto: coisas, outros seres e a própria natureza estão à serviço desse ser humano, detentor do conhecimento e controle.

Embora seja inegável o grande avanço das ciências, das artes e do próprio ser humano vendo a sociedade hoje com egos tão inflados e voltados para o eu egocêntrico, consumista e exteriorizado, percebemos que talvez esse antropocentrismo esteja subindo demais à cabeça.

 

Talvez o impacto das ideias do antropocentrismo, atualmente, esteja fazendo com que o ser humano foque suas atitudes no ter e supervalorize os “autos” da vida (auto suficiente, auto realizado, auto controle, auto eficiente etc) confundindo-se com  deuses, senhores do universo desejosos de controlar tudo e à todos.

Estamos adoecendo e, não por acaso, autores como  Regina Margis e  Antônio Dias, apontam que as pessoas de personalidade tipo A são mais suscetíveis à doenças cardíacas, e não coincidentemente, essas doenças são as que mais matam nos dias de hoje.

Pessoas com esse tipo de personalidade, segundo esses autores são ambiciosas, controladoras, competitivas, impacientes, hiperativas, investem muito na profissão, são auto disciplinadas, super exigentes e parecem estar constantemente prontas para o combate, prontas para superação desgastando-se emocional e fisicamente.

Claro que precisamos nos desenvolver, precisamos dos “autos” (auto realização, auto eficácia, auto afirmação, auto estima etc) mas não podemos nos desconectar do divino contido em cada ação nossa. Precisamos nos conectar ao sagrado através do reconhecimento do valor do próximo, através da necessidade de cuidar da natureza, através do reconhecimento de nossa pequenez diante do universo. Precisamos exercitar nossa espiritualidade.

O renomado psiquiatra e psicoterapeuta Dr. Ajax Salvador, num de seus excelentes textos sobre o adoecimento da sociedade coloca que “a noção da unidade sustenta-se agora não mais em Deus, mas na forma do eu (transcendental). Não por acaso os atributos que anteriormente eram atributos exclusivos da divindade passam a ser qualidades do “Eu” (unidade, autenticidade, independência, autonomia, autodeterminação etc.).

Eventos atuais de corrupção, números crescentes de pessoas adoecendo, constantes brigas por poder servem para nos mostrar que talvez esteja na hora de sermos mais humildes e aceitarmos, que no espetáculo da vida, o papel principal ainda cabe à Deus, e a natureza e o próximo dividem constantemente a cena conosco.

Namastê, até a próxima!

 

Ms. Alessandra Cerri;

 sócia-diretora do centro de longevidade e atualização,  de Piracicaba (CLAP), mestre em educação física, pós-graduada em neurociência aplicada à longevidade, pós-graduanda em psicossomática 

 

 

 

 

 

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