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Um novo olhar

Um novo olhar:

A Vida é bela…a Velhice é bela. Dicas para conquistar uma velhice bonita.

 

Ana Cintra conta que seu filho pequeno, com a curiosidade de quem ouviu uma nova palavra, mas ainda não entendeu seu significado, perguntou-lhe: – Mamãe, o que é velhice? Na fração de segundo antes da resposta, Ana fez uma verdadeira viagem ao passado. Lembrou-se dos momentos de luta, das dificuldades, das decepções. Sentiu todo o peso da idade e da responsabilidade em seus ombros. Tornou a olhar para o filho que, sorrindo, aguardava uma resposta. – Olhe para meu rosto, filho. Isto é a velhice. E imaginou o garoto vendo as rugas e a tristeza em seus olhos. Qual não foi sua surpresa quando, depois de alguns instantes, o menino

respondeu: – Mamãe! Como a velhice é bonita!

Junto à história de Ana Cintra, estava a música de Gonzaguinha “Feliz”:

“Viver, e não ter a vergonha de ser feliz […] a beleza de ser um eterno aprendiz […] eu sei que a vida podia ser bem melhor e será, mas isso não impede que eu repita é bonita, é bonita e é bonita”. Pois bem, os artistas nos revelam: A velhice é bonita. A vida é bonita. Portanto, envelhecer é belo, porque envelhecer é viver, viver é envelhecer, tanto que só pode envelhecer quem está vivo. Viver é construir história, trilhar caminhos possíveis, pois somos constantemente desafiados pela vida. A vida é dinâmica, um processo contínuo de modificações.

Pois bem, como encaramos essas modificações? Como encaramos nosso envelhecimento? Qual o significado que atribuímos ao processo de envelhecer? Será que envelhecer significa olhar-se no espelho e perceber nossos cabelos brancos, nossa pele enrugada? Relaciona-se a ideia de perdas, desuso, inutilidade, doenças? Ou envelhecer significa amadurecimento, acúmulo de experiências, sabedoria, tranquilidade, prazer em viver, com sonhos, desejos, projetos? E ainda, será que envelhecer está apenas nas oposições entre positivo e negativo, ganhos e perdas?

Trata-se de um fenômeno que faz parte do ciclo natural da vida, configurando-se, porém, como um processo complexo, heterogêneo, multifacetado, em que cada pessoa vivencia essa fase da vida de uma forma que envolve perdas e ganhos, encantos e desencantos, os quais são intensificados conforme fatores internos e externos, considerando sua história particular, a estrutura social e cultural onde o sujeito está inserido.

Envelhecer diz respeito à existência humana na complexidade das dimensões física, psicológica, social, econômica, histórica e cultural, desta forma, cada um de nós transmite um significado pessoal e particular deste fenômeno.

Trabalho e tenho desenvolvido pesquisas com pessoas deste segmento etário e constatei que estão rejeitando os estereótipos e preconceitos sobre a velhice. Estão empenhados em criar novas possibilidades e significados para o envelhecimento. Esta fase da vida tem sido vista como um período com potencial para o crescimento, um tempo para fazer planos e ir em busca de suas concretizações, um tempo para explorações pessoais, enfim, um tempo para viver e ser feliz, assim como reflete sabiamente a música de Almir Sater e Renato Teixeira, “Tocando em frente”: […]Penso que cumprir a vida seja simplesmente/compreender a marcha e ir tocando em frente/[…]cada um de nós compõe a sua história/e cada ser em si carrega o dom de ser capaz/e ser feliz […].

Durante nossa convivência com os idosos podemos perceber a vida presente, vivida com intensidade, com prazer. Corroborando com nossas experiências, resgatamos Marrano (2006) e Mirian Goldenberg (2014) ao nos relatarem as ideias mais importantes para conquistar uma velhice bonita.

Dicas para conquistar uma velhice bonita:

  1. Ter um projeto de vida: um projeto para o bem viver, com metas, sentido de direção, o qual pode se determinado desde a infância e também pode ser construído nas diferentes fases da vida. Como quero viver e envelhecer? “Não importa o que a vida fez com você, mas sim o que você faz com o que a vida fez com você”.
  2. Buscar o significado da existência: as pessoas estão sempre à procura de um sentido para viver; próprio de cada indivíduo. Podemos encontrar esse significado de diversas maneiras, seja na família, no trabalho, no amor, na compaixão, na amizade e também na atitude que se tem nas adversidades da vida.
  3. Conquistar e valorizar a liberdade: Muitos idosos afirmam que conquistaram a liberdade de ir e vir, fazer e não fazer, e de ser “eles mesmos”, com suas próprias escolhas. Deixaram de se preocupar com a opinião dos outros e resgataram e valorizaram mais suas próprias vontades e desejos.
  4. Almejar a felicidade: para Sócrates o segredo da sua felicidade, estava no fato de ele próprio, por sua própria vontade, ter escolhido e criado a forma de vida que ele viveu. A felicidade está na possibilidade de ser criada, plenamente, por cada um de nós.
  5. Cultivar a amizade: amigas (os) são parte da “família escolhida”, não obrigatória. Podemos contar com as amigas (os) para dar risada, sair, conversar, nos ajudar, nos acolher.
  6. Viver o presente: viver o aqui e agora, com suas vontades, desejos, escolhas, priorizando a saúde, o bem-estar, os pequenos prazeres. Usar o tempo presente por escolha e não mais por obrigação.
  7. Aprender a dizer não: o não é a palavra que representa a recusa em assumir os papéis impostos pela sociedade. Dizer não é um processo contínuo de escolhas e libertação.
  8. Superar os medos: o medo da velhice, da doença, da dependência, da morte. Entender que envelhecer e morrer constituem o processo natural da vida. É preciso que tenhamos consciência, vontade, disciplina para que façamos escolhas ao longo da vida que contribuam para se viver da melhor maneira possível.
  9. Aceitar a própria idade e as transformações corporais: Entender e aceitar os processos de transformações corporais, sociais, afetivas, cognitivas e compreender que a passagem do tempo trás consigo, perdas e ganhos, encantos e desencantos. Diante esse fato, procurar equilibrar nossas potencialidades e nossas limitações, em diferentes graus de eficácia, nessa fase da vida.

Sabemos das inúmeras dificuldades que passam muitos idosos, discriminações, preconceitos, muitos autores, como afirma Goldenberg (2014), já escreveram sobre isso. Portanto, tivemos como objetivo neste texto, resgatar caminhos para que possamos chegar à última fase da vida de uma maneira mais digna, mais feliz, como nos alerta Mirian Goldenberg “meu objetivo é descobrir os passos necessários para construir a minha própria bela velhice” e assim podermos compartilhar com todos, onde, na medida do possível, possamos viver saudáveis e felizes.

 

Maristela Negri Marrano

 

Bibliografia de apoio:

COELHO, Paulo; SOUZA, Maurício. O Gênio e as Rosas e outros contos. São Paulo: Globo, 2004.

GOLDENBERG, Mirian. A bela velhice. 4ª ed. – Rio de Janeiro: Record, 2014.

MARRANO, N.O. Maristela. Corporeidade Idosa: o significado do envelhecer no discurso dos idosos da comunidade tirolo-trentina. Piracicaba: UNIMEP, 2006.

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