Gosto muito da sabedoria oriental e, uma das que mais me encanta é a que está por trás da técnica kintsukuroi. Essa técnica, diz respeito à recuperação de louças quebradas com uma espécie de tinta de ouro realçando as rachaduras e remendos.
Constantemente buscamos perfeição; buscamos perfeição na nossa estética tentando esconder através das mais variadas técnicas e procedimentos nossas imperfeições obtidas com o passar do tempo; buscamos perfeição das pessoas que estão ao nosso lado e buscamos perfeição em nossos afazeres e em nossas rotinas.
No entanto, a beleza deveria estar justamente na imperfeição; é exatamente a imperfeição que mostra que as coisas, as pessoas ou as relações viveram experiências, tiveram histórias que deixaram marcas.
Se deixarmos um prato guardado num armário fechado a sete chaves, intocável, com certeza ele não terá nenhuma rachadura, nenhum arranhão. No entanto, ele não participou efetivamente de nenhum evento, não serviu nenhuma comida carinhosamente preparada, não esteve em nenhuma mesa “presenciando” o afeto vindo de uma refeição entre pessoas queridas.
E assim somos nós; se não convivermos ou não nos envolvermos diretamente com as pessoas, provavelmente, não teremos nenhuma “rachadura”, nenhum desentendimento, mas também não teremos enfrentado nenhum aprendizado de tolerância, não teremos vivenciado nenhum momento de afeto, de alegria, de troca de experiências, ou seja, não teremos criado laços ou construído histórias com ninguém.
E, se o seu vaso com alguém estiver com rachaduras… ótimo!!! Significa que é uma relação de verdade, pois relações perfeitas demais significam superficialidade. Toda vez que estamos nos relacionando de verdade com as pessoas estamos expondo nossos defeitos e, estamos buscando entender os defeitos dessas pessoas, erraremos e perdoaremos os erros simplesmente porque queremos e valorizamos esse vaso rachado e o queremos conosco apesar de tudo.
Nosso corpo, enquanto vaso também precisa ter suas “trincas” de ouro, porque significa que estamos vivos. Estamos numa caminhada e, embora possamos nos machucar, quando eventualmente tropeçarmos, ainda sim os machucados e as marcas do tempo são melhores do que o não viver.
O grande fundador da psicologia analítica Carl Gustav Jung em seus trabalhos comenta que “Ninguém pode fazer história se não quiser arriscar a própria pele, levando até o fim a experiência da própria vida…”
Então, sejamos mesmo vasos quebrados com remendos, porque esses remendos tanto os nossos, quanto o dos outros nos indicam que ainda vale a pena consertar; ainda vale a pena continuarmos caminhando, vivenciando experiências e acima de tudo, constatando que a perfeição não existe; ela é apenas uma necessidade nossa de ter controle sobre tudo e sobre todos.
Viva sem medo de entregar-se. Até a próxima,
Namastê!!!
Sócia-diretora do centro de longevidade e atualização de Piracicaba (CLAP), mestre em educação física, pós-graduada em neurociência aplicada à longevidade, pós-graduanda em psicossomática
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